Devaneio de guerrilha

by - 17 outubro


Do rádio ecoava umas músicas estranhas do meus netos, mas dentro de mim liberava uma velha sensação, que conhecia tão bem quanto meu próprio corpo, dentro de mim implodia uma chama de glória. Ao contar e relembrar tão vividamente todas aquelas histórias, tão chatas para os meus netos, elas ficaram tão nítidas que poderia jurar que estavam acontecendo neste instante.
No fundo eu sei que é apenas, mais um de meus devaneios de rotina, pois todas essas conquistas sangrentas são tão reais como esse meu corpo velho e mutilado sem utilidade, ao menos posso me vangloriar com todos esses momentos do passado, me orgulhar de todos os companheiros que tive o privilégio de guerrear e de todos os que não foram tão bons assim, mas acima disso tudo sempre fui honrado em minhas atitudes.
De todas as missões impostas a mim durante todos os meus anos de glória, apenas não realizei uma, não que não conseguiria cumprir, mas por ter esquecido uma regra básica. Este foi meu adeus a essa vida conturbada, cheia de mortes e feridas, eu não poderia continuar machucando sem me machucar e eu não poderia arrastar comigo alguém.

Eu não poderia machucar alguém de olhos tom de mel, tão brilhantes como o sol, lábios que foram desejados por muitos homens antes de mim, seios fartos, uma bunda que me faz palpitar, me balançar querer algo que nunca imaginei ter, em todos os meus anos de guerra nunca estive tão realizado como naquela noite que fugimos, nunca estive tão realizado como estou agora jogado em volta de meus netos contando momentos de gloria, agora, sem importância.

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