Kelly's Pub

by - 15 agosto


- Boa noite! O Senhor deseja algo?
- Desejo meus anos de volta, com todos os aprendizados que recebi nesses últimos 47 anos e uma dose do seu melhor ouvido pela próxima noite. Meu jovem posso parecer um velho acabado, debruçado sobre seu balcão, arranhado e grudento, mas já fui como você e todos sentados aqui, sem muita experiência, cheio de vontade e com um desejo insaciável por aventuras.
Bem, em uma noite, deixe me pensar, à mais ou menos uns 28 anos atrás, eu estava na esquina desse bar, bem, como posso falar sem parecer imbecil? Conhecendo uma jovem assim por se dizer, mal poderia saber que, a partir daquele momento, me tornaria o que sou hoje, procurado não apenas pela polícia, por um dos mais astutos assaltos com reféns, éramos cinco, naquela tarde ensolarada de terça-feira, entramos as 15:37, haviam poucas pessoas trabalhando naquele dia, sete ao total e clientes eram onze, havia uma mãe com uma criança de colo, lembro daquele menino de olhos castanhos escuros, que não parava de chorar e por isso liberamos, tanto ele como sua mãe que fedia a vômito fresco poucos minutos depois, você sabe o que fazem com assassinos de crianças em presídios? Bom, não queira saber.
Como eu dizia, ficaram dezesseis reféns ainda, pedimos para que enchessem as malas com rapidez, não queríamos demorar muito lá dentro para não haver ainda mais complicações do que já havia ocorrido, aquele banco cheio de lustres e desenhos de anjos já estava cercado de policiais, e isso já passava das 15:51, a cada minuto que passava, ficávamos ainda mais apreensivos, quando um de meus parceiros disse que deveríamos negociar com o Chefe da operação Carlos, que me parecia um bom homem, apesar de estar querendo me prender.
- Negociações nunca dão certo.
- Não interrompa! Carlos fez muitas propostas, mas todas elas nos deixava de mãos atadas e sem nenhum refém, foi quando olhei para a linda moça que havia conhecido na noite passada e cogitei desistir dos meus parceiros de anos, e comecei pensar apenas em mim e nela, eu sei meu jovem parece um tanto quanto egoísta, não é mesmo? Ainda mais se pararmos e pensar que não fazia nem 24H que nos conhecíamos, chamei para longe e conversamos por quase uma hora, planejamos o que faríamos e chegamos a uma única solução.
Ela foi chamar o restante do grupo e ficou enrolando enquanto isso liguei para o Chefe Carlos e fiz de conta que era um refém e passei informações de como sua equipe deveria proceder, expliquei onde “nós reféns” estávamos, e quantos eram os “assaltantes”, por onde era melhor sua entrada e em que momento, prometi que na hora chamaria a atenção de meus cúmplices e criaria uma distração para a equipe de Carlos ser bem sucedida.
Feito isso, voltei para perto da moça e acertamos os últimos detalhes, isso era 16:50, fazendo parte do nosso plano, ordenei que eles fossem para perto dos reféns, como havia combinado com Carlos alguns minutos antes, peguei a moça pela mão e falei que iríamos estudar uma rota de fuga para todos, foi quando começamos nossa própria fuga.
- Abandonasse seus amigos por uma única mulher, mas...
- Meu jovem, tenha calma. Subimos para o terceiro piso, lá tinha uma escada externa em caso de incêndio, esperamos pelo lado de dentro da janela, até escutar o estrondo da porta de baixo romper o silêncio no prédio, foi quando eu sai primeiro, e ela foi logo atrás de mim, tão rápido quanto conseguia, mal consegui ar suficiente, era como se meu pulmão tivesse parado, num estante estávamos na calçada, com três malas, e dentro de cada uma delas havia mais ou menos R$700 mil, e logo estávamos andando na rua como se fossemos curiosos pelo acontecimento, apenas turistas enxeridos. Meus amigos, assim como você falou, foram pegos, dois deles acabaram morrendo, um por um policial e outro não encarou muito bem o fato de ser preso, e antes mesmo que alguém pudesse ter feito algo puxou o gatilho se despedindo desse mundo, o outro foi preso, julgado e condenado, deixando bem claro que tudo o que aconteceu naquela tarde foi a meu mando, assim que soube disso sumi, abandonei a moça e o bebê que ela esperava.
A propósito, o nome da moça era Kelly!
- O que?!!!

- Isso, Kelly, soube que ela usou o dinheiro daquele dia para comprar esse bar, criar seu filho, ter uma vida tranquila, soube também que seu filho tem os olhos do seu pai, tão claros quanto água cristalina, meu jovem já reparasse que seus olhos brilham tanto quanto os meus em noites mais estreladas!

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